Pesquisadores da UFSCar encontram fóssil de tatu gigante na Chapada Diamantina
- Da Redação - Com informações da UFSCar
- 7 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Com dois metros de comprimento, altura de um metro, cerca de 220 kg, e carapaça semelhante aos tatus atuais, embora proporcionalmente maior, o tatu gigante foi encontrado em uma caverna na cidade de Iramaia, na Chapada Diamantina, a 409 km de Salvador.

O achado foi feito pelo Grupo de Pesquisa Paleoecologia e Paleoicnologia do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), liderado pelo professor Marcelo Adorna Fernandes, em parceria com o Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GMPE), de São Paulo.
O animal faz parte do grupo denominado Pampatherium – que significa besta dos pampas –, viveu no final do Período Pleistoceno, há cerca de 12 mil anos, em locais da América do Sul. Aqui no Brasil, habitava a região Nordeste do país e se distribuía para o litoral até o interior da Bahia e Minas Gerais.
O professor Adorna conta que todo o trabalho de descoberta do fóssil começou há cerca de três anos.
“Em 2012, Ericson (do GPME), nos enviou uma foto de alguns ossos, obtida por ele no interior de uma caverna na região de Iramaia, na Chapada Diamantina. Ao analisar a imagem constatamos que se tratava de um grande Pampatherium, um tatu gigante. A partir de então elaboramos um projeto de pesquisa e em 2013 foi programada uma expedição para a localidade da descoberta no intuito de recolher os restos do animal”, lembra o pesquisador. “A surpresa foi que não havia apenas um esqueleto completo, com mais de 98% dos ossos – além das placas da carapaça –, mas sim mais dois indivíduos adultos da mesma espécie e outro indivíduo jovem de uma outra espécie, também foi coletado o indivíduo jovem para estudos posteriores”, ressalta.
Dois exemplares, um completo e outro parcialmente completo (faltando a cauda), foram recolhidos e trazidos ao Laboratório do DEBE.
“Utilizamos as espécies atuais de tatus para poder detectar semelhanças e diferenças com o fóssil”, aponta.
De acordo com o professor, a comparação com outros indivíduos já descritos e depositados em coleções científicas é fundamental para poder se estabelecer as características morfológicas e osteológicas na identificação de uma nova espécie.
“Os processos que levaram à preservação como fóssil, estudados na caverna, são muito importantes para se conhecer os hábitos destes animais extintos, bem como a paleoecologia do lugar onde o animal habitava”. Com todo o estudo, descobriu-se que a espécie antiga de tatu gigante deveria se aproveitar de cavidades naturais, como cavernas, mas também podia produzir tocas, escavando com suas unhas fortes.
“Devido a uma dentição que não apresentava esmaltes, se alimentava especialmente de gramíneas e demais vegetais tenros”, analisa o professor. Além de todas essas pesquisas, o grupo também realizou a tomografia do crânio do animal.
“Esse procedimento contribuiu para o entendimento da evolução cefálica do animal comparado ao crânio de um tatu atual. Esta é uma oportunidade interessante de colaboração para as pesquisas paleontológicas, pois é um método que não danifica o material fóssil”, explica Adorna. Até o momento, no Brasil, apenas um outro esqueleto com aproximadamente 60% da estrutura, sem o crânio, era tido como o mais completo da espécie.
“Agora, com esse esqueleto depositado na coleção de paleontologia do DEBE, temos o material do gênero Holmesina major mais completo do Brasil, com 98% do esqueleto coletado e mais de mil placas dérmicas, que correspondem à carapaça do animal, como a dos tatus atuais”, informa Adorna. Para o pesquisador, a próxima etapa será estabelecer uma idade mais precisa para o esqueleto encontrado, bem como estabelecer os passos finais deste indivíduo até o momento de sua morte, empregando métodos utilizados na Tafonomia - é o estudo de organismos em decomposição ao longo do tempo e como se fossilizaram, caso a fossalização tenha ocorrido.
“Além disso, a ocorrência de outros indivíduos da mesma espécie, associados com outro jovem de outra espécie, pode ajudar a explicar as relações paleoecológicas entre estes grupos de tatus gigantes extintos”, explica.
Segundo Adorna, a descoberta desse fóssil é significativa por acrescentar mais dados às informações sobre a osteometria (medição de ossos) e morfologia (é o estudo da forma dos seres vivos, ou de parte dele, ramo que se divide em anatomia e a histologia) destes animais, complementando os estudos sobre a evolução e adaptação para o tipo de ambiente pretérito.
“Essa descoberta contribui também para estudos relacionados às mudanças ambientais e os processos que levaram à extinção da megafauna brasileira”, finaliza.
Crédito da foto: Luciana Bueno dos Reis Fernandes
Comments